02/06/2013

Histórias Sobre Fotografias: Gaivota Tridáctila

 
Atenta, ela assistia ao zarpar dos navios. A gaivota tridáctila, de corpo miúdo e voo ligeiro, que espalhava ao vento as mensagens do mundo. Notava-se-lhe um certo ar de tristeza, havia dias que estava em terra sem que, no mar, houvesse sinais de tempestade. Mais um navio se afastava, lá se ia equilibrando na crista da onda. Outra gaivota sobrevoava a embarcação, da popa à proa, ia e volteava, num vaivém de voos tangenciais. Vento frio, gélido no rebentar das ondas, e o grito da companheira. Lembrava-se de tudo menos do momento em que ela se havia prendido nas amarras do navio. Se o tempo é um limador de arestas, certamente, um dia iria recordar aquele quadro com a melodia da saudade.
Luz, textura, cor. Escuridão. O vento sopra forte e o navio adentra-se na tempestade. Enraivecem os gigantes dos mares. As ondas embatem no farol e intensifica-se o ruido que vem do quinto dos infernos, onde os demónios lutam pelo domínio das águas e dos ares. E das gaivotas que voam livres, espalhando as mensagens do mundo. Quantas tinham sido as tormentas que, juntas, haviam passado na fresta de uma falésia escarpada? Tantas, tantas que não daria para as contar. E os voos rasantes, na praia, sob as estrelas e o luar. Havia mais uma estrela no mar.
Amanhã, empreenderia novos voos solitários. Talvez em bandos, quem sabe!... Amanhã voltaria a voar. Porque quem volta tem sempre uma história para contar.


1 comentário:

Clementina Barros disse...

Voo fantástico este,
Harmonioso e poético,tal qual o voo da gaivota
Parabéns Luisa