21/02/2020

Sonhos Perdidos

©Prawny

       Trazia consigo os sonhos mais íntimos de uma vida inteira. Aqueles que sempre guardou nos recônditos enlaces da sua alma, sem nunca os mostrar, sem sequer ter coragem para os sonhar. Porque a vida, sempre a vida, lhe dizia que não era lícito o sonho. Não podia, não devia ultrapassar os limites impostos. Quais limites, inventados por quem e com que propósito? Isso, ela não sabia.
Ela só sabia que a existência não lhe fazia sentido sem os seus truques de magia, ainda que apenas os realizasse para sua própria satisfação, nas esquinas e vãos de escada por onde se movia. Ouvia, às vezes, chamarem-lhe feiticeira. Bela feiticeira, chamavam-lhe os homens que secretamente a espionavam, e, com toda a certeza, de tais visões alimentavam os seus delírios. Mas isso era dantes, dantes quando era jovem e bela: a bela feiticeira!
Agora, era só a bruxa que deambulava pelas ruas da cidade, numa excentricidade muda que já a ninguém incomodava. Agora já podia ultrapassar os limites, já era lícito o sonho…, mas faltavam-lhe as forças. Continuaria a arrastar os sonhos, pelas ruelas e becos sem saída, que ecoavam os seus lamentos.




24/01/2020

Fada Sem Asas

©peter_pyw


Sou fada sem asas
Num mundo de incandescência
Onde por vezes me perco
(ou encontro)
Sem o sentido das horas
Que se apagam sem a ardência
Dos momentos de paixão

Momentos que em frémitos vêm
Sem o consentimento da razão
Insanidade minha talvez
Que incorre uma e outra vez
Na Rebeldia do meu querer
Porque as ânsias que me assolam
São todas de aprender a viver



17/01/2020

Deito-me sobre o meu Ser...

© Lindner


Deito-me sobre o meu ser
E logo me adentro na tua noite
Vou ter contigo ao infinito
Das paixões que se consomem
Lentamente em lume brando

Porque há desígnios para lá
Deste limbo onde me prendeste
O corpo em morte ausente
E a minha alma clama em delírios
Por um fogo em chamas de alvorada

Como sonhos de abalar o mundo
Que no meu espírito nutro
Qual semente que rasga o ventre
Para que nasça um novo amanhã
Para sempre em mim presente





07/01/2020

Inquietude... o estado que me acalma

Imagem encontrada na net sem referência ao autor 


Nesta tarde fria
De um dia que se reflete em indecisões
Vou e venho em pensamentos
Que me balançam a alma
Sei que o meu querer é indestrutível
Mas será que a magia não se perde
Nos labirintos impenetráveis do ser?

Tenho sonhos sem sentido
Que são plenamente sentidos no meu coração
Sonhos que me invertem os sentimentos
E me afundam numa exuberante calma
Contra dizentes ao meu ser audível
Sempre presente no meu plano primeiro
Porque a inquietude também é satisfação…



30/12/2019

Não Me Olhes

Imagem de CANDICE CANDICE por Pixabay


Não me olhes
Se não vieres com verdade
Não me iludas com veleidades
Que não quero mais promessas vãs
Os fogachos acesos pela vaidade
Já não vão dar a novos amanhãs

E eu só quero
Ser plena nas minhas convicções
Sem o chame das grandes intenções
Demonstradas naquele momento
Que pela paixão apela ao sentimento
E aos enviesados dias que escolhes

Onde não vejo
O tempo em tempo presente
De um comprometimento assente
Nas palavras ditas lá atrás
Ou nas imagens que aos olhos tolhes
Na escuridão que de luz se apraz      

De ti, que em desejos te recolhes
Eu só quero que não me olhes!




22/12/2019

Não Chores

Serigrafia "Não Chores"
de Maria José Brito 


Menino,
que na estrela da alvorada,
trazes a vida em florescência
de nobres desejos em debandada.
Há em ti a pureza, a inocência
de quem vai agora iniciar caminho
e quer fazê-lo sempre a amar…

No teu olhar,                
há uma centelha de esperança,
que o mundo precisa de cultivar.
O mundo que não se quer perder,
nos preâmbulos da desilusão.
Ainda há tempo para a temperança
dos sentimentos no coração!

Assim o mundo acredite
que não há impossíveis decretados,
na vida em recomeço constante.
Os finais só serão acabados,
se a vontade os quiser estanques.
Faz o teu caminho, menino…
Com amor, supera as tuas dores.
Não chores, meu menino. Não chores!


11/06/2019

Será?...

Fotografia encontrada na net sem referência ao autor 


          Palavras ditas, foram muitas, mas foram principalmente as não ditas que eternizaram os momentos em que as almas se tocavam. Das mãos escorriam letras, que o coração acolhia no mais recôndito dos seus recantos, e do corpo, a reclamação de presença! Presença que encurtasse a distância e abrisse os braços à medida de um abraço. Mas tudo isso foi há tanto tempo… Será que ainda te lembras do que é a eternidade?