O
sonho pairava no ar e foi numa espécie de magia sentida a dois que terminaram o
jantar. Inês e Henrique sabiam que um caminho reluzente os esperava para ser
percorrido na senda da paixão. Um e outro eram estrelas da mesma galáxia. Corpos
ardentes que se queriam pertencer numa dádiva mútua em cama de prazer.
-
Este quarto era dos meus avós – Henrique falou com intensidade na voz – este
foi o seu leito nupcial. Meu avô costumava contar para mim e para meu irmão que
naquele tempo não tivera oportunidade para viajar em lua-de-mel então estavam
neste quarto os paraísos encantados que visitara com o amor de sua vida. A
minha avó.
Inês
deslizou a mão ao longo do cabelo, soltando-o por cima do peito que deixava
vislumbrar através do decote semiaberto. Andou na direção de Henrique e com
olhar sedutor ofereceu-lhe o beijo que o despertou para uma dança de sentidos.
Desnudaram-se os corpos na sequência das mãos em delírio. Que as almas, essas
já se haviam desnudado à mercê do estado que as envolvia. Caminhos
desconhecidos, trilhos secretos que a um e a outro desvendavam universos
sombrios à espera de libertação. Elevaram-se os espíritos, cânticos de anjos
ecoaram nos céus. Houve o êxtase e num instante a inquietação. Nos olhos de
Inês, nuvens intempestivas assombraram o coração de Henrique.
-
Desculpa…
-
Desculpa…?
-
Fiz-te chorar.
-
Uma mulher chora sempre. Chora quando está profundamente triste, chora quando
está extremamente feliz, chora quando odeia, chora quando ama. Chora quando o
coração lhe transborda de sentimentos que a marcam para todo o sempre.
Henrique
bebeu na força do caudal daquele rio de lágrimas e chorou também. Sem palavras,
porque todas as do universo não aguentariam o que aquelas duas almas tinham
para dizer, deixaram adormecer os corpos ao ritmo dos corações em festa. Pela
madrugada fora rumo a uma alvorada que se eternizaria no amor que os fazia
unos.
-
Inês, já é dia.
-
Não, não me acordes ainda. Quero banhar-me nua no sol desta manhã.
Sol
que não havia. Nem sequer a janela estava aberta. O sol brilhava só e apenas
para eles os dois. Foi o último trago da noite, que beberam antes de se
juntarem ao convívio familiar que não desejavam.
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