09/01/2017

in Alegrete D'Aquém e D'Além Mar


O sonho pairava no ar e foi numa espécie de magia sentida a dois que terminaram o jantar. Inês e Henrique sabiam que um caminho reluzente os esperava para ser percorrido na senda da paixão. Um e outro eram estrelas da mesma galáxia. Corpos ardentes que se queriam pertencer numa dádiva mútua em cama de prazer.
- Este quarto era dos meus avós – Henrique falou com intensidade na voz – este foi o seu leito nupcial. Meu avô costumava contar para mim e para meu irmão que naquele tempo não tivera oportunidade para viajar em lua-de-mel então estavam neste quarto os paraísos encantados que visitara com o amor de sua vida. A minha avó.
Inês deslizou a mão ao longo do cabelo, soltando-o por cima do peito que deixava vislumbrar através do decote semiaberto. Andou na direção de Henrique e com olhar sedutor ofereceu-lhe o beijo que o despertou para uma dança de sentidos. Desnudaram-se os corpos na sequência das mãos em delírio. Que as almas, essas já se haviam desnudado à mercê do estado que as envolvia. Caminhos desconhecidos, trilhos secretos que a um e a outro desvendavam universos sombrios à espera de libertação. Elevaram-se os espíritos, cânticos de anjos ecoaram nos céus. Houve o êxtase e num instante a inquietação. Nos olhos de Inês, nuvens intempestivas assombraram o coração de Henrique.
- Desculpa…
- Desculpa…?
- Fiz-te chorar.
- Uma mulher chora sempre. Chora quando está profundamente triste, chora quando está extremamente feliz, chora quando odeia, chora quando ama. Chora quando o coração lhe transborda de sentimentos que a marcam para todo o sempre.
Henrique bebeu na força do caudal daquele rio de lágrimas e chorou também. Sem palavras, porque todas as do universo não aguentariam o que aquelas duas almas tinham para dizer, deixaram adormecer os corpos ao ritmo dos corações em festa. Pela madrugada fora rumo a uma alvorada que se eternizaria no amor que os fazia unos.
- Inês, já é dia.
- Não, não me acordes ainda. Quero banhar-me nua no sol desta manhã.
Sol que não havia. Nem sequer a janela estava aberta. O sol brilhava só e apenas para eles os dois. Foi o último trago da noite, que beberam antes de se juntarem ao convívio familiar que não desejavam.


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