Atenta, ela assistia ao zarpar
dos navios. A gaivota tridáctila, de corpo miúdo e voo ligeiro, que espalhava ao
vento as mensagens do mundo. Notava-se-lhe um certo ar de tristeza, havia dias
que estava em terra sem que, no mar, houvesse sinais de tempestade. Mais um navio
se afastava, lá se ia equilibrando na crista da onda. Outra gaivota sobrevoava
a embarcação, da popa à proa, ia e volteava, num vaivém de voos tangenciais.
Vento frio, gélido no rebentar das ondas, e o grito da companheira. Lembrava-se
de tudo menos do momento em que ela se havia prendido nas amarras do navio. Se
o tempo é um limador de arestas, certamente, um dia iria recordar aquele quadro
com a melodia da saudade.
Luz, textura, cor. Escuridão. O
vento sopra forte e o navio adentra-se na tempestade. Enraivecem os gigantes
dos mares. As ondas embatem no farol e intensifica-se o ruido que vem do quinto
dos infernos, onde os demónios lutam pelo domínio das águas e dos ares. E das
gaivotas que voam livres, espalhando as mensagens do mundo. Quantas tinham sido
as tormentas que, juntas, haviam passado na fresta de uma falésia escarpada?
Tantas, tantas que não daria para as contar. E os voos rasantes, na praia, sob
as estrelas e o luar. Havia mais uma estrela no mar.
Amanhã, empreenderia novos voos
solitários. Talvez em bandos, quem sabe!... Amanhã voltaria a voar. Porque quem
volta tem sempre uma história para contar.
1 comentário:
Voo fantástico este,
Harmonioso e poético,tal qual o voo da gaivota
Parabéns Luisa
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