Um dia, doeu-me o coração. Tinha sido atingido por
uma seta certeira, proveniente de um qualquer capricho da vida. A vida tem
assim destes caprichos cruéis. Atira setas a alvos frágeis. Diria até que o faz
por maldade, talvez. Mas possivelmente, não. Possivelmente, o propósito é mesmo
outro. Eu só sei que o meu coração doía.
E eu não queria um coração dolorido. Resolvi
livrar-me dele. Rasguei o meu peito e arranquei-o com todas as minhas forças.
Deitei-o fora e despojei-me assim das dores. Senti-me aliviada por instantes.
Pensei que podia viver sem coração. Naquele momento de alívio, achei que era
melhor assim. Mas logo comecei a sentir um vazio no meu peito. Um vazio que era
o buraco deixado pelo coração. E o buraco também doía. E crescia. E à medida
que crescia, a dor aumentava. Percebi que não valia a pena ter arrancado o
coração e perdi-me um pouco de mim.
Até que num outro dia, outro qualquer capricho da
vida devolveu-me o coração. Vinha renovado, livre de dores. Trazia algumas
cicatrizes, é verdade. Mas dei-me conta que essas cicatrizes o tinham
fortalecido.
Não, nunca mais quero viver sem coração!
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