Não tinha hora certa, era quando o coração se lhe apertava
com saudades do mar. Calçava as galochas, vestia o velho casaco de marinheiro e
descia, ligeiro, até à foz. Ficava ali por tempo indeterminado, nem ele mesmo
sabia se eram horas ou dias, que duravam os êxtases que o prendiam entre o
estuário do rio e a longitude do mar. A cana de pesca era um mero acessório,
jamais levara um peixe para casa. Quando algum, por descuido, mordia o anzol,
oferecia-o às gaivotas que em troca lhe contavam histórias de outros mares.
Desde sempre, que era esse o fascínio que nutria pelo mar. O
mar tocava outras terras, outros continentes, e conhecia outras gentes. O mar
trazia notícias de mundos diferentes. Mundos que ele sempre sonhara conquistar.
Nunca tinha ido para lá da praia, nem mesmo conhecia, por dentro, um grande
navio, mas gostava de navegar. Oh, se gostava! Ali, mesmo, naquele cantinho da
foz, quantas viagens de circum-navegação não tinha já feito? Nem lhes sabia a
conta. Era só embarcar num sonho e o mar abria-lhe caminho para a aventura,
levava-o por ventos e tempestades, ondas calmas ou revoltas… até ao infinito
das marés.
1 comentário:
Um belíssimo álbum, este (tal como são os outros todos), que me levou para o mundo dos sonhos. Eu é que agradeço
Beijo!
Enviar um comentário