Vagueiam por toda a
parte. Ora vagarosas, ora apressadas, umas levando a vida passo a passo, outras
correndo atrás dela. São as sombras que habitam a cidade e a levam para a
frente ou para traz, consoante as marés. No mar de gente que todos os dias
inunda as ruas e avenidas, as praças e ruelas, ou mesmo os becos sem saída, há
sombras que se movem transportando a verdadeira essência dos corpos. Essência
que, quase entorpecida, só se revela na cumplicidade com o espírito, nos encontros
a dois revestidos de clandestinidade. Como velhos amantes, sombra e espírito
trocam confidências de alcova que só para eles fazem sentido.
A sombra enaltece
aquilo que de mais genuíno o espírito tem, e ele, por sua vez, ensina-lhe os
truques para se esgueirar entre a fantasia e a realidade. Fórmula humana de a
alma viver em liberdade. Mesmo quando o corpo sobrevive a prazo numa existência
moribunda, a sombra, sempre ela, guarda a réstia de dignidade que persiste
mesmo nos corpos sem destino. Ou o lado oculto do Ser, que com ele coabita numa
vivência equilibrada de querer e poder. O que se mostra nem sempre é o que se
quer mas o que se pode, porque há o verso e o reverso do espelho, cada alma é
assim. Ora transparente, ora opaca, balançado entre a fantasia e a realidade,
entre a mentira e a verdade. Cada sombra carrega o seu corpo, criando a
simbiose perfeita entre parasita e hospedeiro numa relação de sobrevivência.
E dessa forma os corpos
vagueiam pelas sombras, como um só Ser, que são, na diversidade de um mundo
cada vez mais igual.
3 comentários:
Simbiose perfeita? sem dúvida, em que o belo texto descreve a foto, e a bela foto, inspira o texto Como sempre Luisa, é um gosto ler o que escreves.
Bjs.
Obrigada, Clementina.
Beijo grande!
Obrigada eu por mais esta fotografia - este álbum - inspiradora.
Estou a gostar tanto de escrever estes textos.
Beijo imenso, Zé!
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