©Prawny |
Trazia consigo os sonhos mais íntimos de uma vida inteira. Aqueles que sempre guardou nos recônditos enlaces da sua alma, sem nunca os mostrar, sem sequer ter coragem para os sonhar. Porque a vida, sempre a vida, lhe dizia que não era lícito o sonho. Não podia, não devia ultrapassar os limites impostos. Quais limites, inventados por quem e com que propósito? Isso, ela não sabia.
Ela
só sabia que a existência não lhe fazia sentido sem os seus truques de magia,
ainda que apenas os realizasse para sua própria satisfação, nas esquinas e vãos
de escada por onde se movia. Ouvia, às vezes, chamarem-lhe feiticeira. Bela
feiticeira, chamavam-lhe os homens que secretamente a espionavam, e, com toda a
certeza, de tais visões alimentavam os seus delírios. Mas isso era dantes,
dantes quando era jovem e bela: a bela feiticeira!
Agora,
era só a bruxa que deambulava pelas ruas da cidade, numa excentricidade muda
que já a ninguém incomodava. Agora já podia ultrapassar os limites, já era
lícito o sonho…, mas faltavam-lhe as forças. Continuaria a arrastar os sonhos,
pelas ruelas e becos sem saída, que ecoavam os seus lamentos.